+ Dom Adilson Pedro Busin
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
O tempo em que vivemos, marcado pela pandemia da Covid-19, nos deixa em estado de apreensão e medo. O isolamento social tem causado, para muitos, angústia, depressão e estados emocionais de desespero. Há quadro social cheio de perguntas que, mesmo no silêncio das ruas, rondam nossas mentes. Até quando vamos ficar isolados? Como manter o país e sua economia funcionando? O que vai ser dos trabalhadores/as desempregados? Dos empresários e dadores de trabalho que já não conseguem “dar a volta”? E quando poderão as igrejas serem totalmente abertas? E as escolas? Os serviços? O comércio? Haverá uma vacina contra o coronavírus em breve? Há muita pergunta no ar. Perguntas planetárias. A humanidade toda sente o mesmo problema. Enfrenta o mesmo vírus. Um inimigo invisível – muito invisível – tomou conta das notícias, das redes sociais, das conversas (a distância) das famílias, das mensagens, dos debates e até das polêmicas. E as vidas que se foram?! Enterros com máquinas em cemitérios improvisados. Quanta dor! Atravessamos o vale tenebroso (do salmo 22). Vale de trevas! “Neste vale de lágrimas” é a expressão que os cristãos rezam há séculos na Salve Rainha. Sim, um vale de lágrimas! Chocou-me as cenas das valas comuns. A primeira (que eu vi na tevê) foi a de Nova Iorque. Fiquei atônito. Mas depois, infelizmente, e bem mais triste e deprimente, surgiram aqui, em nosso Brasil. Penso nos familiares que não podem sepultar seus entes queridos. Nem podem se aproximar para a despedida. “Gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Em pleno 2020, também suplicamos a Mãe de Deus “a vós bradamos, os degredados, filhos de Eva, a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.” Expressão carregada de culpa? De depressão? De tristeza? De certa forma, sim. Mas se o filho pede, é porque confia. Os homens e mulheres de fé que recitam a Salve Rainha têm na Mãe a intercessão segura. Faço parte destes filhos que confiam. A dor não está alheia à prece. Mas a confiança a supera. Por quê? Porque no início da oração está a expressão de confiança que motiva toda a súplica: “Spes nostra”! Nossa esperança. Há um olhar diferente do suplicante. É o olhar da fé. Em meio ao vale de lágrimas, há alguém que “volta o seu olhar”. O olhar da fé já espera. Na fé há uma companhia segura no vale escuro. Maria, spes nostra. Maria, nossa esperança. A esperança se traduz em atitude de amor. Nesta pandemia, temos visto tantos gestos de solidariedade e cuidado para com os sofredores. Gestos maternos de amor. Maio, mês das mães. Para os católicos, é o mês de Maria, encerrando com a festa da coroação. Maria, mulher e mãe, discípula do Senhor e “spes nostra”. No olhar da fé, ela nos coroa de esperança.
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