+ Dom Jaime Spengler
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre
A Semana Santa, na liturgia católica, é essencialmente um Tríduo. São três dias intensos de devoção e de memória celebrativa de um grande mistério: Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Os fatos recordados e celebrados indicam a Cruz como ponto alto da vida de Jesus de Nazaré. Ela é a maior expressão de amor, do empenho de alguém “que passou por entre nós fazendo o bem, e que buscava fazer bem todas as coisas” A Cruz assusta, escandaliza! É rejeitada e, por vezes, ignorada. Para alguns ela é negação de vida. É que sempre há os que anseiam por uma vida sem limites, renúncias ou dores. Tal anseio é, de certa forma, natural, pois o ser humano traz em si o desejo de viver e somente viver. Ele sente dificuldade em relação a princípios, normas, preceitos, limitações, proibições. Deseja comodidades, bem-estar, facilidades de todo tipo. É como se o mito das origens continuasse a incitá-lo a não ter medo e a aproveitar tudo a qualquer custo. Se nos tempos de Paulo de Tarso uma parte do mundo pedia sabedoria e a outra milagres, hoje, uma pede justiça e a outra liberdade. No entanto, vale perguntar: qual justiça? Qual liberdade? A Cruz se apresenta como um absurdo em um contexto histórico como o atual, no qual a história parece ter perdido relevância, visões antropológicas redutivas e o individualismo incongruente tendem a se impor, e “grandes” palavras como, por exemplo, justiça, unidade, liberdade, solidariedade, democracia, fraternidade, comunhão são esvaziadas de sentido ou manipuladas segundo interesses efêmeros e particulares. Neste contexto histórico-social se impõe a necessidade de resgatar e anunciar o núcleo da fé cristã: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras” (1Cor 15,3-4). Ele, o Crucificado e Ressuscitado (1Cor 1,23) é o fundamento da verdadeira justiça e da verdadeira liberdade. Por isso, para os cristãos a Cruz é sinal de esperança: nada há que não possa ser transformado por meio da luz de Jesus Cristo. O testemunho que Jesus deu diante dos discípulos lavando-lhes os pés, e de Pilatos manifestando sua fé no Pai é indicação de seu amor por toda humana criatura. Os fatos da Paixão de Cristo celebrados durante o Tríduo Pascal ensinam que “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13), e que “o amor é forte como a morte” (Ct 8,6). Só o amor para nos tornar, graças a Ele e com Ele, sinais de vida e esperança!
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