+ Dom Jaime Spengler
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre
O tempo atual, marcado por uma noite escura que desceu sobre toda a humanidade à causa da presença entre nós de um vírus ágil e perigoso, tem exigido determinação, ousadia e rigor de quem se dedica à pesquisa científica. Homens e mulheres se empenham para encontrar uma vacina que imunize o maior número possível de pessoas contra o coronavírus. Algumas já estão sendo aplicadas; outras estão esperando aprovação das autoridades competentes; e outras ainda estão em fase de testes. A crise provocada por esse minúsculo micro-organismo, cujos efeitos são tão incertos, pode pôr em risco a vida humana. Os números dos infectados mundo afora são astronômicos. Só no Brasil já são mais de 225 mil mortos. É uma tragédia que está exigindo o melhor da classe científica. Infelizmente não faltam os negacionistas do perigo que representa esse vírus. Não faltam os que buscam tirar vantagens da insegurança latente, da angústia de muitos que se sentem vulneráveis, da dor de famílias e comunidades atingidas, e mesmo da morte de tantos. É que onde falta ética e respeito humano a barbárie vai fazendo sua estrada. Não faltam também os que desprezam os dados científicos! Em meio à tragédia verdadeiramente global, cientistas se empenham por propor iniciativas a fim de frear a expansão da pandemia, como também buscam meios para favorecer a tão desejada imunidade capaz de impedir contaminações. Nestes tempos também não faltaram vozes “religiosas” desacreditando dados científicos e mesmo negando a necessidade de uma vacina. Tais manifestações estão marcadas por uma compreensão deturpada do agir científico e uma concepção distorcida da própria experiência religiosa. É preciso resgatar a consonância existente entre ciência e experiência religiosa. Há uma correspondência entre a experiência no âmbito científico e no âmbito da fé. São experiências que só podem ser esclarecidas e compreendidas na finitude do saber do não-saber. A verdadeira ciência e a verdadeira fé permanecem sempre abertas, suspensas na tensão do saber do não-saber, sem se render ao dogmatismo nem ao ceticismo. Tanto enunciados científicos como enunciados de fé são limitados e só podem ser ouvidos e entendidos por quem foi alcançado pela dimensão em que estes enunciados fazem sentido.
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