+ Dom Adilson Pedro Busin
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
A primavera chega com força e com o irresistível fascínio que esta estação traz ao nosso olhar. No início de setembro, viajando pelo interior do Rio Grande do Sul, em companhia de minha mãe e de amigos, ao longo das rodovias, passamos por vários trechos ladeados por exuberantes ipês floridos. Nas redes sociais, muitos usuários faziam questão de postar suas fotos, como que num concurso de qual delas mereceria mais “likes”, as famosas curtidas. Não faltaram as expressões para exaltar a beleza. Dentre elas: “os ipês, de tirar o fôlego!”. Quanto mais variados e intercalados, entre roxos, amarelos e até brancos, que são mais raros, o mosaico de fotos só enalteceu e confirmou o encanto dos ipês. O mês de setembro, além dos ipês, traz o início da primavera, quando a natureza explode em vida: renovação das árvores, beleza das flores, o gorjeio das aves, que buscam renovar as gerações construindo novos ninhos. A vida fala! Para a humanidade, a juventude representa força e esperança. Depois do longo inverno da pandemia, é nela, na juventude, que depositamos o futuro. Claro, todos somos humanidade, e todos temos a mesma grandeza de vida. Mas é ela a idade mais vigorosa, de explosão hormonal, da criatividade intelectual, da qual espera-se novos inventos, novos rumos e novos caminhos. Depois da hibernação, neste longo período da pandemia, é o jovem que carrega em seu bojo histórico, um sonho de um mundo renovado. Haverá o pessimista que vê nos jovens a apatia, ensimesmamento e falta de rumo. A pandemia impôs a todos muitas incógnitas e medos, mas é possível esperar. Sim! E o Papa Francisco tem repetido em tantas oportunidades: “Não deixemos que nos roubem a esperança!” Juventude é olhar para frente. É broto de vida nova. É esperar com os pés no chão: políticas de incentivo ao estudo e à ciência; abertura de postos de trabalho que permitam aos jovens permanecerem no país; espaços na política, na economia, na Igreja, onde possam colocar em ato as forças renovadoras do tecido social. E quanto mais diversidade, mais riqueza e mais beleza. Como o encanto dos ipês. Na esteira da primavera e da juventude, celebramos o 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, no dia 26 de setembro. Neste ano, o Papa Francisco nos convida a refletir: “Rumo a um ‘nós’ cada vez maior”. Os desafios do mundo em movimento, as incertezas, dores, sofrimentos e mortes, que marcam as trajetórias e os sonhos destes nossos irmãos e irmãs, nos colocam no caminho do encontro como humanidade. Vencendo a tentação da xenofobia e das variadas formas de discriminações, somos convidados a olhar o mundo, inspirados no coração de Deus-Trindade. Comunhão que gera vida. Os humanos – nós – somos “imagem e semelhança deste Deus” – unidade na diversidade do amor. A grandeza do “eu” é a capacidade de abrir-se ao “nós”. Encontro com o outro diferente. A comunhão de raças, culturas, línguas e expressões religiosas revela a beleza da raça humana. O encontro e a hospitalidade engrandecem a humanidade. Ah, os ipês! Seu encanto é ainda mais belo na diversidade das cores e tamanhos. Ao cruzar este tempo de pandemia, renovemos o compromisso de uma humanidade melhor. É um sonho?! Mas é típico do jovem sonhar, buscar, desafiar. Encantar-se com a humanidade. Há um novo florescer. A maravilha dos ipês. Um só já é belo. Juntos são irresistíveis. Viva a beleza da juventude. Por que não dizer isto da humanidade?! “Rumo a um ‘nós’ cada vez maior”!
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