+ Dom Leomar Antônio Brustolin
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre Estamos habituados a nos questionar e refletir sobre o sentido da vida em meio aos revezes do cotidiano e da existência. Geralmente, contudo, não nos perguntamos sobre a nossa morte. No máximo, ficamos indignados com a morte dos outros, especialmente quando são vinculados à nossa história. A pandemia do novo coronavírus, entretanto, provoca a humanidade com o sentimento de incerteza, insegurança e finitude. Diante do inimigo invisível que ceifa vidas, podemos nos perguntar sobre o sentido da dor, do mal e da morte. O enigma da morte atormenta a condição humana, não somente porque se percebe a dissolução do corpo pela enfermidade ou envelhecimento, mas, sobretudo, em função do temor de que tudo se acabe para sempre. A miríade de religiões do mundo, entretanto, expressa a intuição do coração humano, que se recusa à ruína total e ao desaparecimento definitivo. Há uma semente de eternidade plantada em cada pessoa, ainda que nem todos a cultivem. Esse germe refuta a possibilidade de reduzir toda a densa experiência do viver às condições limitadas do tempo e da pura matéria. Não se trata de querer prolongar os dias de forma infinita, mas de derrotar o inimigo mais ameaçador de todos: a morte. O dia dos finados é expressão da memória dos que partiram e deixaram saudade, mas é também sinal de esperança. Não se trata de fantasia sobre onde e como estão os mortos, pois diante da morte toda imaginação se revela impotente. Trata-se de crer que o humano é uma criatura de Deus destinada a um final feliz, além dos limites do tempo e do espaço. A fé assegura que há uma vida eterna que não conhece dor, nem lágrimas e tampouco a morte. Essa realidade tão excelsa é a participação na vida divina. O dia dos mortos oferece a possibilidade de rezar pelos irmãos e irmãs queridos que a morte já levou, crendo e esperando que eles alcançaram a verdadeira vida junto de Deus. Toda essa esperança não é teoria. É seguimento Daquele que passou pela morte da cruz e ressuscitou. Não se trata de aderir a uma doutrina, mas, sobretudo, de se relacionar ou não com Aquele que, em sua vida e morte, superou o enigma da dor e da morte. Crer na vida eterna é um dom que a fé concede. Afinal, é morrendo que se vive para a vida eterna!
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