+ Dom Adilson Pedro Busin
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
O mês de outubro é considerado pela Igreja Católica como o “Mês das Missões”. A palavra “missão” pode assumir vários significados. É comum vermos nas salas de recepção de instituições de ensino, hospitais, ou mesmo empresas e fábricas, painéis explicando a missão daquela obra. Até em Hollywood, missão é título de muitos filmes. Aqui neste espaço, acentuo o aspecto existencial e, especificamente, evangélico de missão. O Papa Francisco diz que “nossa vida é missão”. Este é o lema do Mês Missionário. Um fio de ouro que conduz toda a ação missionária. Missão é sair para encontrar o outro. Na pandemia, o encontro tomou o caminho do digital. Dizem que tenha vindo pra ficar. Um novo modo de ser presença. Isto não diminuiu a intensidade do ser missionário. As redes sociais podem, também, ser um grande canal para organizar a caridade. Até porque centenas de milhares de cestas básicas distribuídas nas paróquias, grupos e instituições de boa vontade, traduzem a ação missionária como gesto de sair de si e ir ao encontro do outro. O digital tornou-se refeição em milhares de famílias. As visitas aos enfermos, a presença nos funerais, uma palavra de consolo aos que sofrem, alentar os abatidos, acolher o estrangeiro. Missão é abrir-se, doar-se, contribuindo para a edificação do bem da humanidade e do cuidado da Casa Comum (a natureza). Os médicos e profissionais da saúde que, neste tempo de pandemia, se doam incansavelmente aos irmãos atingidos pela Covid-19, vivem uma intensa missão de salvar vidas. Missão é fazer da vida um gesto de doação. A fé em Jesus Cristo joga uma luz de verdade sobre nosso existir. O humano de sua encarnação mostra que a vida assume o sentido mais profundo e belo no extremo do sofrimento. Sua vida se faz doação, entrega e abnegação total. “Não há maior amor do que dar a vida. ” Missão é amar e dar a vida. É a missão do divino Salvador. Oramos e aplaudimos quando as equipes médicas recuperam um ente próximo que amamos. A vida importa, sim! Por isso, ela é missão e tem que ser vivida na plenitude. Deixar o egoísmo e ir ao encontro do outro. Alteridade, solidariedade, encontrar e cuidar do irmão. A Carta Encíclica “Fratelli tutti” (“Todos irmãos”), publicada pelo Papa Francisco no início deste mês, também é apelo a cada um empenhar-se nesta missão. Missão é partir, deixar tudo, ir além fronteira. “Ide e anunciai o evangelho a todos os povos”. Este é outro aspecto da vida que se faz missão. A Igreja nasceu missionária. Está em sua essência e no seu germe. O batismo imprime esta marca. Com o sopro do Espírito, ninguém pode ficar parado. Os discípulos partiram para anunciar. A vida que é missão se torna ainda mais exigente quando se tem que partir. Paulo dirá que “é preciso lançar-se para frente”. Deixar a terra, a pátria, a cultura e assumir o diferente e novo. Anunciar pela vida e pela palavra, sem impor ou destruir. Viver a alegria do evangelho. “Ide e anunciai” sem medo. Na pandemia e nos sofrimentos mais agudos da humanidade Ele não nos abandona. Porque no abandono o Senhor se fez doação suprema na cruz. Ali está a missão do Deus feito Homem que se fez morte para termos nós a vida. Esta é a única razão pela qual vale a pena deixar tudo, cruzar fronteiras e mares para anunciar que Deus nos ama. O mundo tem uma vocação de fraternidade e destino ao bem. Missionário é semeador da boa nova do Senhor da vida. Servo humilde da humanidade. Missão é “ajoelhar-se diante do mundo e pedir licença para fazer-lhe um pouco de bem!” Missão é doar-se. No amor, a vida se faz missão. “Benditos os pés dos mensageiros da paz”. Na missão da vida podemos dizer como Isaías: “Eis-me aqui, envia-me”!
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