Fonte: Arquipoa
Artigo escrito por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre, e publicado originalmente da página 4 do Folheto.
Causa certo desconforto contemplar um sepulcro aberto e, juntamente com uns poucos ossos, ver um pouco de pó, resquícios de um corpo humano que se decompôs, expressando assim a caducidade da vida humana.
Na verdade, tudo se torna pó! Nossa casa, roupas, móveis, o próprio dinheiro; plantas, bosques, florestas. Os animais de estimação – ou não! As pessoas com quem convivemos; pessoas que se tornaram grandes, que fizeram história; pessoas poderosas, pobres, ricas; gênios das ciências, das artes, dos esportes, enfim, tudo que é vida, aos poucos, torna-se pó!
Celebrar os fiéis falecidos nos recorda a fragilidade da vida e, ao mesmo tempo, pede um acréscimo de fé.
O pó que somos conserva uma identidade que vai sendo construída no tempo.
Somos do tempo, mas não para o tempo. Somos sinal Daquele que é sem tempo; somos os dias, mas não para os dias; somos sinal da vida que deixa os dias serem, mas é sem dia; somos da convivência, da relação não da separação e, por isso mesmo, sinal da convivência, da relação sem limitações e sem dominações; a morada do amor sem limites: Deus.
A dor e o sofrimento advindos com a morte nos abrem para verdades e realidades maiores e fundamentais: somos destinados à Pátria Trinitária!
Entretanto, como criaturas, somos levados a refletir e meditar sobre o casulo de nossos dias, qual possibilidade de participar com maior intensidade da vida que nos sustenta, transforma e mantém. Aquela vida que, mesmo que morra, viverá. Aquela vida ‘embutida’ na nossa vida, que alimenta as nossas forças, que não deixa esvair as esperanças, que nos faz sempre de novo romper todas as amarras e grilhões. Aquela vida da qual participamos e que não nos pertence, mas nos concede a graça de participar da Vida; da Vida que dá vida a todas as vidas.
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