+ Dom Jaime Spengler
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre
O filósofo francês M. Onfray publicou recentemente uma obra intitulada “Teoria da ditadura”. Nela ele identifica fases para a implantação de uma possível ditadura: destruir a liberdade, empobrecer a língua, abolir a verdade, suprimir a história, negar a natureza, propagar o ódio, aspirar ao império. A destruição da liberdade se efetuaria por meio do controle social, eliminando a vida pessoal e a solidão, padronizando a opinião, cerceando o pensamento e oferecendo “circo” para as multidões. O empobrecimento da língua ocorreria pelo uso de uma linguagem ambivalente. A eliminação da verdade se daria pela multiplicação de notícias falsas e manipulação da imprensa com a imposição de uma orientação única e precisa. Regimes políticos autoritários usualmente recorrem a medidas de emergência, à subordinação do poder legislativo ou judicial ao executivo, à promoção da ignorância ou não respeito às minorias, à subordinação do Estado aos interesses de grandes grupos financeiro-econômicos, empresariais ou aos assim denominados “investidores internacionais”, à difusão de ataques contra a liberdade de expressão, a disseminação de fake news, ao desmerecimento da participação popular nos espaços de participação sócio-política, etc. Quando o cidadão não pode agir sobre si mesmo e, respeitados os princípios éticos, interagir livremente com as pessoas com as quais convive, então se pode dizer que se está sob um regime de dominação. O direito a participar da vida pública não pode ser negado aos cidadãos; da mesma forma tal direito não pode ser só formalmente declarado e impedido seu exercício; também é inconcebível um aparato burocrático que nega ou impede ao cidadão a possibilidade de agir como ator da vida social e política. Da mesma forma, tentativas de cidadãos ou entidades de “negociar” as condições mais vantajosas para si com as instituições, como se estas estivessem a serviço de necessidades egoísticas, precisam ser combatidas com vigor, pois ferem o princípio do bem comum. A dignidade e liberdade de uma sociedade consistem em privilegiar a vida, pois ela é dom e compromisso! Para isso, faz-se necessário a união entre todas as pessoas que continuam a crer no triunfo final da vida sobre a morte.
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