+ Dom Jaime Spengler
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre
Os dias vividos em isolamento social suscitam angústias, tensões, conflitos, incompreensões, desânimo, expectativas, esperança. Neste contexto, celebramos a solenidade da Páscoa. Impõe-se, porém, uma questão: como celebrar a Páscoa, quando o ar está impregnado de ansiedade e inquietações? Até pouco tempo, tudo parecia transcorrer dentro de uma certa normalidade. De repente, tudo parou! A rápida e segura travessia por um mundo aparentemente seguro e confortável foi repentinamente interrompida. A ânsia prepotente e onipotente do “eu” marcado pela autorreferencialidade e pela velocidade do mundo contemporâneo se viram confrontados por uma situação que exigiu parar. A situação, a necessidade e a fragilidade do outro não tem encontrado espaço na sociedade do lucro indiscriminado, da eficiência sem limites e da produtividade sempre mais exigente. Bastou um vírus e tudo entrou em colapso! A sensação vivida está sintetizada nas palavras do Papa Francisco, no último dia 27 de março: “Desde há semanas, parece cair a noite. Densas trevas cobriram nossas praças, ruas e cidades; apoderam-se de nossas vidas enchendo tudo com um silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: presente-se no ar, nota-se gestos, dizem-no os olhos. Nós nos encontramos temerosos e perdidos”. Urge certamente retomar o cotidiano com suas necessidades, exigências e possibilidades, mas a partir de novos parâmetros, referências, horizontes. O mundo, que contém a todos e sustenta alguns, entrou em colapso, acabou. O salutar e necessário “novo” pode irromper no horizonte da história se houver disposição para resgatar a antiga e sempre nova ética; a ética marcada pelo cuidado, respeito e promoção da vida e “vida em plenitude para todos”. A solenidade da Páscoa recorda a necessidade de cristãos adultos, convictos de sua fé, experientes da vida segundo o Espírito e prontos a justificar a sua esperança. Uma Santa e Abençoada Páscoa a todos e todas!
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