+ Dom Jaime Spengler
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre
A semana da Pátria convida-nos a rever, revisitar aspectos importantes da realidade brasileira. O Hino Nacional apresenta alguns destes aspectos: “teus risonhos, lindos campos têm mais flores. Nossos bosques têm mais vida. Nossa vida, no teu seio, mais amores”. A poesia consegue expressar com beleza e nitidez o que, talvez, o discurso não alcança. As riquezas e oportunidades oferecidas pelo território nacional são inúmeras! Contudo, o país é marcado por incompreensíveis desigualdades sociais. Diante dessa situação histórica, o discípulo de Jesus Cristo não pode permanecer indiferente. Isto porque “o verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, que os pobres devem atribuir sua pobreza à vontade de Deus” (H. Câmara). Recentemente a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Ordem dos Advogados do Brasil, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Academia Brasileira de Ciência, a Associação Brasileira de Imprensa e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência se uniram e dirigiram a palavra a todos os cidadãos brasileiros, expressando a gravidade vivida pela imensa maioria da população da Pátria amada: “A hora é grave e clama por liderança ética, arrojada, humanística, que ecoe um pacto firmado por toda a sociedade, como compromisso e bússola para a superação da crise atual. Como em outras pandemias, sabemos que a atual só agravará o quadro de exclusão social no Brasil. Associada às precárias condições de saneamento, moradia, renda e acesso a serviços públicos, a histórica desigualdade em nosso país torna a pandemia do novo coronavírus ainda mais cruel para brasileiros submetidos à privações. Por isso, hoje nos unimos para conclamar que todos os esforços, públicos e privados, sejam envidados para que ninguém seja deixado para trás nesta difícil travessia. Não é justo jogar o ônus da imensa crise nos ombros dos mais pobres e dos trabalhadores. O princípio da dignidade humana impõe a todos e, sobretudo, ao Estado, o dever de dar absoluta prioridade às populações de rua, aos moradores de comunidades carentes, aos idosos, aos povos indígenas, à população prisional e aos demais grupos em situação de vulnerabilidade. Acrescente-se ao princípio da dignidade humana, o princípio da solidariedade – só assim iremos na direção de uma sociedade mais justa, sustentável e fraterna”. A crise requer ações, iniciativas viáveis, “remédios”!. É a crise que indicará o caminho da superação, no confronto com as verdades do Evangelho. O Evangelho, lido, relido, meditado, rezado e dialogado na comunidade aponta critérios e valores para a leitura da crise. Oferece também luzes necessárias para o caminho de sua superação, qual oportunidade para um futuro digno para todos.
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