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A caminho da Semana Santa

+ Dom Jaime Spengler

Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre


Na Quarta-Feira de Cinzas, com o gesto da imposição de cinzas sobre a cabeça dos fiéis, teve início nosso itinerário de preparação para a festa da Páscoa. As cinzas, sinal de humilhação, penitência e conversão evocam a caducidade da existência humana. Não só o corpo humano, mas todo vivente, aos poucos, se torna cinza. Por meio da recepção das cinzas fomos recordados da própria condição e destino: “Lembra-te que és pó e ao pó retornarás”. O maior desafio humano consiste em caminhar em direção ao seu poder-ser mais. No pressentimento da morte está latente a possibilidade de dignificar o dom da vida. É isso que sugere a expressão “converte-te e crê no Evangelho”. Desse modo, por meio do rito litúrgico da imposição das cinzas, fomos convidados a responder com um acréscimo de fé. A Igreja, durante o tempo quaresmal, propõe a seus fiéis os tradicionais exercícios do jejum, da oração e da esmola, qual caminho privilegiado de abertura à graça da filiação divina. O jejum convida ao esvaziamento de si mesmo, a fim de favorecer as condições para ser fecundado pela suavidade da gratuidade. A oração expressa o desejo de ser atingido pela misericórdia divina. A esmola é amor partilhado, atitude de abertura “para o outro”. Tais exercícios não são formalidades ou meras práticas exteriores; são compromissos de generosidade pelo bem de todos. Expressam a dimensão social da fé. Para responder a tal compromisso, a Igreja do Brasil, propõe para nossa reflexão durante esse tempo um tema específico: “Fraternidade e diálogo”. Assim, sustentados pela fé em Cristo somos animados a prosseguir, por meio do exercício do diálogo, na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Mesmo que o tempo atual, marcado por crises que sobrepõem, apresente sinais da presença entre nós do vírus do desânimo, não podemos permitir que ele se dissemine, pois solapa as oportunidades de diálogo em vista da consolidação da fraternidade. Para combatê-lo “o Senhor deu-nos uma vacina eficaz (...): é a esperança; a esperança, que nasce da oração perseverante e da fidelidade diária ao nosso apostolado. Com esta vacina, podemos prosseguir com energia sempre nova, para partilhar a alegria do Evangelho como discípulos missionários e sinais vivos da presença do Reino de Deus, Reino de santidade, justiça e paz” (Papa Francisco). Que as celebrações da Semana Santa nos fortaleçam na fé e nos ajudem a semear esperança, promovendo fraternidade.

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